As 10 regras da paciência: esta foi a instigante proposta de reflexão e meditação apresentada pelo cardeal Charles Maung Bo, arcebispo de Yangon e presidente da Conferência dos Bispos Católicos de Myanmar, antiga Birmânia.
Não custa lembrar que o país está submetido a um regime fortemente autoritário e registra frequentes episódios de perseguição religiosa.
O cardeal está participando em Budapeste, na Hungria, do 52º Congresso Eucarístico Internacional. Durante a sua fala nesta quarta-feira, 8 de setembro, ele introduziu o tema a partir da definição que Deus dá de Si mesmo como "um Deus de paciência e compaixão", conforme se observa no episódio em que Ele entraga a Moisés as tábuas dos Dez Mandamentos.
"Sim, existem dias de ansiedade. Sempre existem problemas que vêm de fora, mas Victor Frankl ensinou algo sábio: mesmo nos momentos mais escuros você pode controlar o seu sofrimento, dependendo do seu jeito de ver o mundo (…) Tenha paciência, seja positivo. Quando testarem a sua paciência, seja positivo (…) Jesus diz: 'por isso vos digo, não vos preocupeis com a vossa vida'".
"A vida é um longo percurso. A sabedoria nos ensina que, sem dor, não há ganhos (…) A paciência nos torna fortes mentalmente e o silêncio nos torna fortes emocionalmente".
"Reze com o salmista (Sl 130, 5-6): 'Espero no Senhor; a minha alma espera na sua palavra; a minh'alma está à espera do Senhor mais do que a sentinela à espera da aurora'".
"Todas as nossas relações humanas sofrem o impacto das nossas reações. As pessoas irritadas e ansiosas atacam os outros quando se sentem machucadas, causando depressão e desastre na própria vida. Tudo de que se precisa, como dizem os psicólogos, é de dez segundos de paciência: não explodir, não reagir imediatamente".
"A vida floresce com a paciência. Deus levou seis dias para nos criar. A criação não foi feita como 'fast food' [lanches rápidos]. É uma plantinha tenra, nutrida por Deus (…) As coisas têm que se desenvolver da sua própria forma e no seu próprio tempo. Isso nos dá paz".
O careal citou o leigo copta ortodoxo egípcio Adel Bestavros: "A paciência para com os outros é amor; a paciência para consigo mesmo é esperança; e a paciência para com Deus é fé". E acrescentou: "A nossa vida espiritual mais profunda se nutre apenas de paciência. São Paulo diz: 'Três coisas durarão para sempre: a fé, a esperança e o amor, e a maior de todas é o amor' (1 Cor 13, 13). E só durarão com a paciência".
"O tempo de Deus nem sempre é o nosso tempo. Eu rezo e peço a Deus o que quero e quero agora, mas o Salmo 40, 1 diz: 'Esperei pacientemente no Senhor e Ele se inclinou a mim e ouviu o meu clamor' (…) O Senhor nos ensina que a paciência nos dá os melhores frutos".
"Se você é uma pessoa paciente, as pessoas vão querer se relacionar mais com você do que com quem explode quando fica nervoso (…) As pessoas querem falar com quem é paciente com os seus erros, especialmente quando estão tentando aprender. Ser paciente é escolher entender em vez de ficar com raiva".
"O Papa Francisco nos alerta com frequência: a impaciência destrói as famílias de hoje (…) São Paulo nos aconselha: 'Sejam humildes e amáveis, sejam pacientes, tolerando-se uns aos outros no amor. Esforcem-se para manter a unidade do Espírito por meio da paz' (Ef 4, 2-3)".
"A paciência nos ajuda a superar a frustração, que poderia nos levar a desistir; nos ajuda a pensar mais positivamente e a tomar decisões melhores; também nos ajuda a construir a nossa reputação".
Além das 10 regras da paciência, o cardeal Bo ainda propôs um conselho adicional:
"A paciência é a única maneira de se viver em paz neste mundo. A história nos mostra que os líderes impetuosos, impulsivos e impacientes levaram o mundo a desastres. A paciência tem o poder de alcançar a paz quando o líder tem o poder da paciência (…) Jesus enfrentou dois poderes arrogantes: Herodes e Pilatos, que se transformaram em notas no rodapé da história. Já o serviço humilde, amável e paciente de Jesus se transformou na luz que guia a história da humanidade".