Restringir sacramentos por covid-19 é pecado grave, afirmou o cardeal Gerhard Müller, ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, durante entrevista ao portal National Catholic Register, dos Estados Unidos.
O cardeal alemão denunciou que há políticos, veículos de mídia e grandes companhias multinacionais de tecnologia e comunicação digital que, a seu ver, estão "explorando implacavelmente" a pandemia para promover um "pensamento totalitário" que, além de dividir famílias, levou alguns bispos e padres a negarem sacramentos, o que Müller enfatiza que é contrário à "autoridade dada a eles por Deus".
Müller ressalta que a Igreja e os governos devem "trabalhar pela coesão social" e não promover divisões. Ele sustenta que as autoridades legítimas podem exigir a vacinação generalizada dos cidadãos em "emergências extremas", mas ressalta que, mesmo nesses casos, a liberdade dos cidadãos pode ser limitada, mas nunca abolida ou punida, e que, sempre, a produção de vacinas deve ser eticamente correta e ter consequências médicas, psicológicas e sociais mensuráveis e proporcionais aos benefícios esperados. "Em alguns casos", porém, o cardeal considera que "as regulamentações foram comprometidas e contaminadas pelos interesses financeiros e políticos de lobbies ideológicos e gigantes farmacêuticas". Ele acrescenta: "Em vez de unir a sociedade na luta contra a pandemia, os poderes que estão na política, a grande mídia e as 'big tech' exploraram implacavelmente a situação para promover a agenda do 'great reset', ou seja, o pensamento totalitário".
O cardeal acrescenta que a Igreja e o Estado devem focar na coesão e não em discriminar os dissidentes, já que, ao fazê-lo, se tornam "culpados da conduta muito divisiva da qual acusam publicamente os outros".
Ele afirma que "bispos e sacerdotes são ministros da reconciliação das pessoas com Deus e da reconciliação das pessoas entre si", com autoridade que vem de Jesus Cristo. Portanto, "não devem oferecer-se como cortesãos aos governantes deste mundo e tornar-se seus propagandistas".
Restringir sacramentos por covid-19
No tocante a restringir sacramentos por covid-19, Müller declara que esta postura "é uma prova chocante do quanto a secularização e a descristianização do pensamento já atingiram os pastores do rebanho de Cristo". Ele defende a "observância de regras razoáveis para prevenir a transmissão da doença", o que não deve ser confundido com a "recusa dos sacramentos", pois "a graça da vida eterna deve ter precedência sobre os bens temporais".
Por esta razão, o cardeal Müller afirma que "os locais de culto devem estar bem abertos para que as pessoas possam buscar refúgio em Deus, de quem vem toda a ajuda". Ele acrescenta que "a tarefa dos bispos é administrar a Eucaristia aos fiéis, não mantê-los afastados dela. A devoção pessoal em casa e a co-celebração virtual nas telas não podem substituir a presença real e física na assembleia dos fiéis, pois somos seres corporais e sociais".
E finaliza:
"A graça e a verdade de Deus nos são comunicadas por meio da Encarnação de seu Filho e são compartilhadas conosco na comunidade da Igreja. É o seu corpo. Na Eucaristia, Cristo está escondido, mas realmente presente com a sua divindade e sua humanidade - em carne e osso".