Imitando os velhos tempos de Fidel Castro em Cuba, o ex-comandante sandinista e atual presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, consumou uma farsa disfarçada de eleições municipais e conquistou, oficialmente, os 153 municípios que compõem o país centro-americano.
Além de colocar toda a oposição na cadeia e perseguir impiedosamente a Igreja (o bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez, ainda está em prisão domiciliar e mais de dez padres continuam presos sob acusações de crimes inexistentes), Ortega manobrou para que nenhum município da Nicarágua seja livre.
Junto com a esposa e vice-presidente Rosario Murillo, Daniel Ortega comemorou neste domingo e segunda-feira a sujeição total dos municípios ao sandinismo, em eleições sem concorrência e, praticamente, sem eleitores (exceto os que manifestaram seu "apoio" absoluto ao "casal presidencial").
Ou comigo ou na cadeia
Fotos das seções eleitorais mostram mesários à espera de eleitores num clima de apatia e desolação. Na contagem de votos, como não poderia deixar de ser, os 153 municípios tiveram 100% dos votos para o partido que está no poder.
É assim que são as coisas num regime de partido único, pensamento único, opção política única. A Nicarágua está entrincheirada, sob a ameaça de que aquele que discordar será acusado de sedição, traição à pátria e desestabilização do Estado. O acusado será entregue às mãos do judiciário, que o mandará para o infame presídio de "El Chipote", tristemente famoso como centro de torturas.
Identidades usurpadas
O regime celebrou a "alta participação" dos eleitores, mas organizações independentes estimam que nada menos que 82% do eleitorado se absteve de votar.
Do exílio, organizações nicaraguenses denunciaram a monumental fraude eleitoral deste domingo, 6 de novembro, que, entre outras artimanhas, usurpou a identidade de ao menos mil cidadãos para apresentá-los como candidatos nas listas eleitorais.
Segundo o último relatório das autoridades eleitorais, a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), que administrava 141 prefeituras até domingo, estende agora o seu poder a todos os 153 municípios, assumindo o controle também dos 12 que estavam nas mãos do Partido Liberal Constitucionalista (PLC) e da Aliança Liberal Nicaraguense.
Coação sem precedentes
A organização independente Urnas Abertas declarou que houve "coerção sem precedentes" contra funcionários públicos, opositores e a população em geral. A organização denunciou que o regime sandinista vigiou cidadãos em cada casa para evitar manifestações de resistência e, em alguns casos, até mesmo para obrigá-los a ir até as urnas, segundo o jornal espanhol El País.
O jornal Los Angeles Times reproduziu falas da vice-presidente Rosario Murillo: ela declarou à mídia oficial que as eleições confirmaram "a unidade em torno da paz e do bem como o único caminho" para o país - embora a Nicarágua esteja afogada em severa crise política há mais de quatro anos, com a maioria dos opositores presos ou exilados.
Rosario Murillo afirmou:
"Vivemos um dia exemplar, maravilhoso, formidável, no qual confirmamos a nossa vocação para a paz. Um dia de harmonia, alegria, fraternidade, um dia extraordinário de democracia".
Daniel Ortega, depois de votar, declarou:
"Mais do que o partido que recebe o voto, vota-se na Nicarágua. E ao votar na Nicarágua, vota-se pela paz".