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Felicidade, religiosidade e encontro com Cristo

Girl looking at a glass ball with a scene of the nativity of Jesus Christ in a glass ball on a Christmas tree
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Francisco Borba Ribeiro Neto - publicado em 18/12/22
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Se é tão evidente que a sabedoria religiosa nos ensina a viver melhor e ser mais feliz, por que parece haver uma hostilidade tão grande ao cristianismo e aos valores cristãos?

De tempos em tempos nos deparamos com algum artigo sobre como “viver bem” relacionando virtudes religiosas com a felicidade e a alegria. Um deles, publicado no blog da Faculdade de Medicina de Harvard, foi comentado em vários sites brasileiros no último mês. Entre outras sugestões, como realizar atividades físicas, o texto recomendava práticas de meditação, trabalho voluntário e desapego ao dinheiro – que são aspectos da vida claramente associados à vivência religiosa. Também vamos encontrar frequentemente, em artigos desse estilo, a qualidade das relações interpessoais, enfatizando o amor reciproco e as relações de amizade e vida comunitária, reforçando novamente a importância de um modo “religioso” de viver.

Ora, se é tão evidente que a sabedoria religiosa nos ensina a viver melhor e ser mais feliz, por que parece haver uma hostilidade tão grande ao cristianismo e aos valores cristãos? Nós, seres humanos, somos contraditórios, criados para o bem, muitas vezes praticamos o mal. Aquilo que nos dá prazer num momento, nem sempre traz uma alegria duradoura. Por isso, o caminho da felicidade exige discernimento, algumas renúncias e certo empenho. Contudo, vivemos numa cultura comodista, que oferece um ideal (falso) de autonomia e prazer ilimitados. Queremos ter as benesses da vida religiosa, mas não queremos fazer os esforços necessários para alcançá-las.

A dedicação só é sincera quando nos descobrimos amados

A explicação acima, ainda que real, não responde adequadamente à questão – além de poder receber uma leitura moralista, como se os cristãos fossem melhores do que os outros, mais dispostos a sacrifícios e dotados de um discernimento obrigatoriamente maior do que o dos demais. Cada um de nós, pessoalmente, tem méritos e pecados, assim como os não cristãos. Podemos ser melhores do que uns e piores do que outros, podemos ser mais sábios ou menos sábios. A convicção religiosa, por si só, não garante mais virtudes.

Mesmo em nossa cultura atual, tão individualista, hedonista e comodista, se exalta a abnegação dos esportistas e os atos heroicos daqueles que se sacrificam pelos demais. Os jovens se esforçam e até sofrem treinando para os esportes que gostam. Nem tudo é apenas busca de prazer descompromissado ou de autonomia para se fazer qualquer coisa.

O ser humano está disposto a fazer sacrifícios, se reconhece que eles valem o sofrimento. Ao longo dos séculos, contudo, a experiência cristã muitas vezes se tornou uma afirmação de valores convencionais, que devem ser seguidos porque parecem ser os melhores para a vida social, não por que as pessoas se tornam mais felizes ao aderir a eles.

Os críticos muitas vezes fazem questão de só apresentar esse lado infeliz do cristianismo – em alguns casos por má fé, em outros por que de fato é o único que tiveram a chance de conhecer. Nenhum jovem se esforçará treinando para um esporte que não lhe trará prazeres e alegrias. De modo similar, as pessoas não irão crer nos valores propostos como norma moral e não como caminho de felicidade e realização pessoal.

Não à toa, Papa Francisco dedicou sua primeira exortação apostólica “à alegria do Evangelho” (Evangelii Gaudium, EG). Nesse texto, observa que “há cristãos que parecem ter escolhido viver uma Quaresma sem Páscoa” (EG 6), e deseja, citando a Evangelii nuntiandide São Paulo VI,“que o mundo do nosso tempo, que procura ora na angústia ora com esperança, possa receber a Boa Nova dos lábios, não de evangelizadores tristes e desesperançados, impacientes ou ansiosos, mas sim de ministros do Evangelho cuja vida irradie fervor, pois foram eles que receberam primeiro em si a alegria de Cristo” (EG 10).

O encontro com Cristo e a alegria de se descobrir amado

O cristianismo não é uma filosofia de vida ou um código de moral – ainda que comporte essas dimensões em sua natureza. O cristianismo é a amizade com Cristo, o encontro com essa Pessoa que muda toda a nossa vida. A alegria do Evangelho não nasce do seguimento a um conjunto de normas para o bem viver, mas sim do descobrir-se amado de um modo e com um ardor até imerecidos.

Dar um presente para alguém que amamos, até fazer um sacrifício por essa pessoa, nos enche de alegria. mas se, por alguma convenção social, somos obrigados a presentear ou nos sacrificarmos por uma pessoa à qual não amamos, sentimo-nos enraivecidos e frustrados. Muitos seguiram – e ainda seguem – os mandamentos cristãos sem terem de fato feito esse encontro, sem terem percebido esse amor que recebem do próprio Deus.

Idealmente, o cristão não medita, faz voluntariado, vive em comunidade ou tem qualquer outra prática espiritual por obrigação religiosa. Ele faz essas coisas para ficar perto Daquele que o ama, para acompanhar a Cristo e aprender a viver a alegria que vem desta companhia. Essa é, ou deveria ser, a grande diferença entre o caminho cristão e as propostas de autoajuda, o moralismo estoico e os modismos espiritualistas e gnósticos.

Voltando à pergunta inicial, se é tão evidente que a sabedoria religiosa nos ensina a viver melhor e ser mais feliz, por que parece haver uma hostilidade tão grande ao cristianismo e aos valores cristãos? Em última análise, porque ainda hoje as pessoas não conhecem esse Cristo que as ama, que é um companheiro de caminhada, que faz a estrada alegre e as cruzes mais leves... Pensam que O conhecem, mas na verdade estão referindo-se a um produto da imaginação humana, talvez a um líder espiritual (que realmente existiu, mas era muito mais do que isso).

Que esse Natal que se aproxima renove em nós o alegre encontro com Cristo, que faz nossa vida mais feliz.

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