O Papa Francisco está hospitalizado no Hospital Gemelli em Roma desde 29 de março de 2023. Oficialmente, ele trata uma infecção respiratória.
De fato, a saúde o Papa foi testada ao longo dos anos.
Desde sua juventude, Jorge Mario Bergoglio foi confrontado com a fragilidade e finitude da vida humana, quando uma doença respiratória quase o levou embora em 1957. O biógrafo Austen Ivereigh reproduz a fala de Bergoglio sobre essa "doença grave" contraída quando ele tinha 21 anos:
"Durante meses eu não sabia […] se ia morrer ou viver. Nem mesmo os médicos sabiam se eu conseguiria. Lembro que um dia pedi a minha mãe, beijando-a, para me dizer se eu ia morrer".
Bergoglio estava em seu segundo ano do seminário na época. Em 13 de agosto de 1957, vendo sua saúde se deteriorar, um funcionário do seminário o levou ao hospital. O diagnóstico: três quistos no lobo superior de seu pulmão direito e uma efusão pleural.
"Primeiro extraíram um litro e meio de água de meu pulmão, depois me deixaram para lutar entre a vida e a morte", disse o Papa. Ele foi submetido a uma cirurgia para remover o lobo superior direito de seu pulmão. No livro "A Saúde dos Papas", do jornalista e médico argentino Nelson Castro, o Papa Francisco descreve esta remoção como uma operação "sangrenta".
Um problema de coração em 2004
De acordo com Bergoglio, ele foi salvo por duas enfermeiras durante sua hospitalização. "Uma delas era a enfermeira chefe, uma freira dominicana que havia sido professora em Atenas antes de ser enviada a Buenos Aires. Soube mais tarde que, depois que o médico saiu, uma vez terminado o primeiro exame, ela disse às enfermeiras para dobrar a dose do tratamento que ele havia prescrito - penicilina e estreptomicina - porque ela sabia por experiência própria que eu estava morrendo", diz ele. A outra enfermeira tinha feito o mesmo quando o jovem estava 'dilacerado pela dor'.
Também no livro "A Saúde dos Papas" o Papa Francisco revelou que, em 2004, quando era arcebispo de Buenos Aires, teve um problema de coração, um "pré-infarto". Mas depois de ser hospitalizado por alguns dias, ele nunca mais teve nenhum sintoma cardíaco.
O ano de 2021, um ponto de inflexão
Além de doenças sazonais e ciáticas recorrentes que o obrigavam a cancelar audiências de vez em quando, o Papa, uma vez eleito, seguiu um ritmo intenso durante oito anos. Entretanto, o ano 2021 marca uma virada em sua saúde.
Em 1º de janeiro, uma dolorosa ciática o obrigou a cancelar várias celebrações litúrgicas e a adiar o tradicional discurso para o corpo diplomático.
O pontífice se recuperou. No dia 14 de janeiro, recebeu sua primeira dose de vacina contra a Covid e fez um apelo a favor da vacinação: "Creio que, do ponto de vista ético, todos deveriam tomar a vacina", anunciou ele na televisão italiana. Em 3 de fevereiro, ele recebeu sua segunda dose.
No entanto, o Papa Francisco mostrava sinais de cansaço após sua cansativa viagem ao Iraque, em março. "Confio em vocês que nesta viagem eu estava muito mais cansado do que nas outras", disse ele aos jornalistas na coletiva de imprensa durante o voo de volta a Roma.
No entanto, o Papa Francisco está mostrando sinais de cansaço após sua cansativa viagem ao Iraque de 5 a 8 de março. "Confio em vocês que nesta viagem eu estava muito mais cansado do que nas outras", disse ele aos jornalistas na coletiva de imprensa durante o vôo de volta a Roma.
O ano continuou de uma maneira difícil: no domingo 4 de julho, algumas horas após a tradicional oração do Angelus da janela do Palácio Apostólico, a Santa Sé anunciou que o pontífice foi hospitalizado no hospital Gemelli. O Papa Francisco, soube-se, estava sendo operado de uma "estenose diverticular sintomática do cólon", uma operação comum para uma pessoa de sua idade, mas que não deixava de ser delicada.
33 centímetros a menos de intestino
A cirurgia causou preocupação e especulação sobre a saúde do chefe da Igreja Católica. Francisco teve que permanecer no hospital romano por dez dias - mais do que as primeiras estimativas. Ele chegou até a recitar o Angelus da varanda do hospital em 11 de julho
Durante esses dez dias, os boletins de saúde foram minuciosamente examinados por toda a imprensa internacional. Esta atmosfera de incerteza gerou muitos rumores sobre o declínio da saúde de Francisco. Vários especialistas do Vaticano até mesmo iniciaram um debate sobre a necessidade de reformar as regras do conclave.
Em sua primeira entrevista depois da operação, Francisco afirmou: "Sempre que um papa está doente, há sempre uma brisa ou um furacão de conclave". O pontífice, no entanto, reconheceu a extensão da cirurgia a que ele havia sido submetido dois meses antes. Ele disse que podia "comer tudo", mas que isto não era possível há algum tempo e que ainda estava tomando medicação pós-operatória, "porque o cérebro tem que registrar que tem 33 centímetros a menos de intestino", enfatizou. Mas ele concluiu tranquilamente: "Fora isso, tenho uma vida normal, levo uma vida completamente normal".
O pontífice começou a viajar novamente: Hungria e Eslováquia em setembro, Chipre e Grécia em dezembro. Para Nelson Castro, "ele é um homem de saúde de ferro".
O ano de 2022: um teste
O Papa Francisco sofre regularmente de problemas no quadril e tem alguma dificuldade para andar. Mas, em 2022, teve um golpe final em suas habilidades motoras. Desde o início do ano, ele falou várias vezes da dor "em sua perna direita". Em 17 de janeiro, durante uma audiência privada com jornalistas, confessou ter sofrido quando se levantou. Da mesma forma, ao receber a polícia italiana em 3 de fevereiro, o bispo de Roma permaneceu sentado para cumprimentar seus convidados.
No final da audiência geral de 26 de janeiro, ele pediu desculpas por não poder se mover entre os fiéis para cumprimentá-los, como ele costumava fazer. O pontífice explicou que estava com um problema no "ligamento do joelho".
Pouco a pouco, a doença tornou-se mais clara: era "gonalgia aguda". O médico do pontífice argentino prescreveu um "período de repouso" e injeções.
A mobilidade do pontífice nunca mais seria a mesma. No início de abril, durante sua viagem a Malta, ele teve que usar um elevador pela primeira vez para entrar e sair do avião.
Um Papa em uma cadeira de rodas
A partir de maio, o Papa Francisco seria visto em uma cadeira de rodas. Uma novidade no Vaticano. Depois, em 10 de junho, a Sala de Imprensa anunciou que o Papa foi obrigado a adiar sua viagem à República Democrática do Congo e ao Sul do Sudão, a fim de "não comprometer os resultados das terapias do joelho ainda em andamento". Foi a primeira vez que o Papa Francisco adiou uma viagem ao exterior por razões de saúde.
Com sua ausência em celebrações, os rumores de sua possível renúncia se intensificaram, assim como as suspeitas de doenças mais graves, especialmente porque o Papa havia acabado de chamar um consistório para criar novos cardeais no final do verão. Mas, o Francisco disse a um grupo de bispos brasileiros no dia 20 de junho: "Quero viver minha missão até que Deus me permita".
Em uma entrevista com a Reuters transmitida em 4 de julho, o Papa confidenciou pela primeira vez que havia sofrido uma "pequena fratura" no joelho quando deu um passo errado e um de seus ligamentos já estava inflamado.
Ele também descartou rumores de que o câncer havia sido descoberto durante sua operação em julho de 2021.
Finalmente, após um período de descanso, o pontífice pode viajar para o Canadá de 24 a 30 de julho. Uma viagem que o fez perceber que não poderia mais continuar no ritmo anterior.
Problema no coração?
Em uma entrevista concedida em 24 de janeiro de 2023 à agência de notícias americana AP, o Papa confidenciou que a diverticulose operada em 2021 "voltou". "Eu poderia morrer amanhã, mas tudo está sob controle". Estou de boa saúde", disse o chefe da Igreja Católica.
Em 29 de março, a Santa Sé anunciou que o Papa Francisco estava no hospital, assegurando em uma primeira versão que estes exames estavam agendados. Mas, segundo a jornalista argentina Elisabetta Piqué, que cobre o Vaticano, ele sofreu um problema cardíaco.
Foi no retorno à Casa Santa Marta, após a audiência geral que presidiu na Praça São Pedro, que o Papa começou a sentir "dores no peito", disse ela ao La Nacion. Seu assistente pessoal, Massimiliano Strappetti, aconselhou-o a ir imediatamente ao hospital Gemelli, para onde foi levado de ambulância.