O Papa Francisco denunciou uma "eutanásia oculta e progressiva" que consiste em privar uma pessoa idosa do tratamento de que ela precisa para "economizar dinheiro". Ele estava falando aos membros da associação religiosa italiana de institutos sociais e de saúde (ARIS), a quem recebeu em 13 de abril de 2023 no Vaticano.
Durante seu discurso, o pontífice de 86 anos notou a tendência dos hospitais a encurtar o tempo de internação, tratando "as fases mais agudas da doença" mas não "doenças crônicas", levando a "cursos de ação que não respeitam a dignidade das pessoas", especialmente dos idosos.
Lógica do lucro
O Papa também criticou a "lógica do lucro", denunciando a privação de tratamento sofrida pelos idosos "para poupar dinheiro" ou por "esta ou aquela razão". "Toda pessoa tem direito à medicação", insistiu ele, saindo de suas anotações. Quando "os idosos têm que fazer quatro ou cinco tratamentos, mas só podem fazer dois", isto é "eutanásia oculta e progressiva", ele denunciou firmemente.
"Ninguém deve se sentir sozinho na doença", insistiu também o Papa Francisco, observando que isto não dependia apenas da situação econômica. "Às vezes os ricos se encontram mais sozinhos e abandonados do que os pobres", disse ele.
Vigilância
Durante a audiência, o chefe da Igreja Católica pediu "vigilância" para não "especular sobre os infortúnios dos outros". Ele recomendou que esta associação envolvida na gestão das estruturas de saúde de inspiração cristã "permaneça na fronteira da necessidade" e "responda sobretudo às necessidades de saúde dos mais pobres". E ele insistiu que os mais pobres são "os primeiros da fila".
O Bispo de Roma expressou sua preocupação com o ressurgimento da "pobreza sanitária" na Itália, que está assumindo "proporções significativas, especialmente nas regiões marcadas por situações sócio-econômicas mais difíceis". Ele falou daqueles que não podem receber tratamento "por falta de meios" ou "por causa de longas listas de espera, mesmo para consultas urgentes e necessárias".
Conselhos
O pontífice também deu vários conselhos às instituições de saúde de inspiração religiosa: para unir-se em uma "rede, recusando qualquer espírito de concorrência"; para criar "novos sujeitos legais" para ajudar "as menores realidades"; para oferecer aos doentes "cuidados integrais", incluindo "cuidados espirituais e religiosos". Ele também advertiu contra o "perigo atual" de que os hospitais religiosos sejam "alienados" por "razões econômicas".
Chamando os membros da ARIS a "fazer escolhas corajosas", seguindo o exemplo dos grandes santos fundadores de hospitais como São Camilo de Lellis, Santa Giuseppina Vannini, São Giuseppe Moscati, Santa Agostina Pietrantoni, o 266º Papa - ele próprio hospitalizado duas semanas antes por bronquite - deixou-lhes esta pergunta: "O que esses fundadores e fundadoras estariam fazendo hoje?