A neurociência é uma área da ciência que estuda a estrutura, a função e o desenvolvimento do sistema nervoso e suas relações com o comportamento, os sentimentos, as emoções e as outras diversas funções mentais.
Com o desenvolvimento de tecnologias como a ressonância magnética funcional, que é um exame de imagem (neuroimagem) capaz de avaliar a atividade cerebral durante uma ação específica como cantar, rezar, sentir dor etc., tornou-se possível à neurociência dar um grande salto na compreensão de como determinados hábitos e atitudes interferem no funcionamento e, inclusive, na estrutura cerebral das pessoas, em especial naquelas que possuem o hábito de rezar frequentemente.
Os estudos de neuroimagem observaram que, durante a oração, são ativadas áreas do cérebro como o córtex pré-frontal e o córtex cingulado anterior.
O córtex pré-frontal está localizado na parte frontal do cérebro, na região da testa. É uma das áreas mais complexas e desenvolvidas no cérebro humano em comparação com todas as outras espécies viventes. Esta área está ligada à capacidade de planejamento, à tomada de decisões e a autorregulação emocional. Logo, alterações nesta área estão associados a transtornos do humor e depressão.
O córtex cingulado está localizado na região central do cérebro. Entenda-se, antes do mais, que o cérebro é dividido em dois hemisférios, direito e esquerdo, e conectando esses dois lobos cerebrais, está o córtex cingulado. Esta região é relacionada à regulação emocional e do humor. Sendo responsável pela percepção da dor e ao processamento emocional relacionado a experiências desagradáveis, auxilia no controle das respostas impulsivas e na tomada de decisões difíceis, além de estar associada a funções como a empatia e a compreensão das interações sociais. A ansiedade, a depressão e os transtornos obsessivos-compulsivos (TOC) estão conexos com alterações nesta área.
Estados emocionais específicos
Considerando que tanto o córtex pré-frontal como o córtex cingulado são ativados nas atividades religiosas, temos, por consequência lógica, que a oração pode estar associada a estados emocionais específicos, o que justifica diversos estudos a sugerirem seus efeitos benéficos como a redução do estresse, da ansiedade, uma maior sensação de vinculação social, melhora da resiliência, entre outros
Vale ressaltar também que os efeitos benéficos da oração não se restringem apenas ao momento da prática. Um estudo publicado, em 2021, na revista Nature, demonstrou que o exercício da meditação focada (Focused Attention Meditation) regular, que tem semelhanças com a oração em termos de foco e introspecção, aumentam a densidade e as conexões do córtex cingulado, indicando benefícios ao cérebro. Tais benefícios estão relacionados à regulação emocional e à memória a longo prazo.
O cérebro estabelece novas conexões toda vez que se aprende uma atividade nova, por isso muitos cientistas comparam o cérebro a um músculo que quanto mais estimulado mais desenvolvido fica. Este fato explica porque pessoas que tiveram uma intensa atividade cerebral durante a juventude (escritores, cientistas etc.) envelhecem, via de regra, com uma capacidade mental preservada.
Desta forma pode-se concluir que dentre todas as ginásticas que o “músculo” cérebro precisa realizar para permanecer sadio ou para recuperar seu equilíbrio, as práticas religiosas, como a oração e a meditação, são fundamentais para a saúde mental.
Aproveito para sugerir uma prática clássica entre os monges e monjas cristãos: a Lectio Divina ou a Leitura Orante da Palavra de Deus. Não é atividade intelectual, mas espiritual e consta de quatro passos básicos. A pessoa escolhe um local tranquilo e, com a Bíblia nas mãos, dela escolhe e lê (lectio), com calma, uma passagem. Em seguida, faz uma meditação (meditatio) a respeito do trecho lido. Tal meditação leva, é certo, à oração (oratio) e da oração se vai à contemplação (contemplatio) das surpresas de Deus – mesmo nos momentos sombrios da vida – em nós e em todo o universo que nos cerca.