Uma congregação de freiras trapistas é a mais recente ordem religiosa a ter de partir da Nicarágua nos últimos meses, encerrando completamente a sua presença no país que sofre hoje uma severa perseguição anticatólica por parte do regime de Daniel Ortega.
Entre as congregações, o caso de maior repercussão foi o das Missionárias da Caridade, fundadas pela Santa Madre Teresa de Calcutá: elas foram expulsas da Nicarágua no ano passado.
O mesmo aconteceu com outras congregações femininas, com sacerdotes diocesanos e até mesmo com o núncio apostólico, representante oficial do Papa Francisco no país. Entre os que não foram expulsos, não faltaram prisões arbitrárias como a que condenou a mais de 26 anos de prisão o bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez, acusado de "conspiração" e "divulgação de notícias falsas" contra o governo de Ortega.
As religiosas trapistas, no entanto, informaram que a decisão de partir da Nicarágua foi voluntária e se deveu a "motivos da ordem", como a "falta de vocações", a "idade avançada de várias irmãs", "entre outros".
O "entre outros" tem gerado especulações sobre a possibilidade de que as freiras tenham optado por não detalhar eventuais motivos políticos a fim de não contribuir para tornar a situação dos católicos ainda mais tensa no país.
De fato, embora o comunicado das religiosas não mencione a sua situação migratória, é de conhecimento público que a Direção Geral de Migração e Estrangeiros tem convocado sistematicamente os religiosos e missionários estrangeiros ao longo das últimas duas semanas. O jornal local 100% Noticias, por exemplo, noticiou que "novos requisitos" estão sendo exigidos pelo regime para autorizar a permanência de religiosos estrangeiros no país.
Além disso, a falta de vocações e a idade avançada das freiras são cenários que se repetem em diversos outros países, e, mesmo sendo fatores verdadeiros e objetivos, poderiam não ser os únicos a determinar a saída das trapistas da Nicarágua.
A ordem chegou ao país 2001, procedentes da Argentina. Elas fundaram o mosteiro Santa Maria da Paz, no departamento de Chontales. Com a saída do país, as freiras entregaram o mosteiro à diocese de Juigalpa, que ainda não se pronunciou sobre o caso.
Em seu comunicado ao público, a ordem informa que o destino das religiosas é o Panamá. E finaliza:
"Continuaremos sempre unidos na oração, na amizade e no amor que o Senhor nos deu ao longo destes 22 anos".