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A impressionante viagem do Papa à Mongólia

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Francisco Borba Ribeiro Neto - publicado em 03/09/23
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Dois sentidos complementares desta viagem são particularmente importantes para a comunidade católica mundial

Poucas viagens papais têm um significado tão impressionante quanto a de Francisco à Mongólia. Não se trata da nação com menor população católica visitada por um papa – esse recorde cabe ao Azerbaijão, visitado tanto por São João Paulo II quanto pelo atual pontífice. Contudo, a viagem à Mongólia é cercada por valores simbólicos.

O próprio site de Aleteia já mostrou o pequeno número de católicos mongóis (cerca de 1.400, enquanto no Azerbaijão são apenas cerca de 600). Contudo, o Azerbaijão foi visitado em viagens nas quais os pontífices também visitaram a Bulgária (Wojtyła) e a Geórgia (Bergoglio). Por outro lado, o esforço despendido em cada deslocamento é muito diferente. Baku, capital do Azerbaijão, dista cerca de 3 mil quilômetros de Roma – e existem até voos regulares entre as duas cidades. Ulan Bator, capital da Mongólia, está a 6 mil quilômetros de Roma – e nem existem voos regulares entre as duas cidades. Soma-se a isso a idade e as condições físicas dos viajantes: Francisco hoje está com 86 anos, com problemas de saúde. Nunca um papa tão idoso viajou para fora da Itália... E para onde ele está indo? Para um país que pode ser considerado, sem qualquer preconceito, o “final do mundo” católico (muito mais do que a sua Argentina natal, que Bergoglio já havia considerado, em tom de brincadeira, “fim do mundo”, quando foi eleito papa).

Uma viagem estratégica...

Os analistas internacionais verão nessa viagem um interesse estratégico: aumentar a visibilidade da Igreja Católica no Extremo Oriente, particularmente na China, país vizinho, a segunda maior população do mundo e uma nação onde o Vaticano enfrenta grandes problemas diplomáticos e de perseguição religiosa. Não se pode eliminar esse dado da realidade quando analisamos essa viagem, mas seria redutivo olhá-la só a partir dessa perspectiva.

Sem dúvida, a pequena Igreja da Mongólia pode ser considerada um exemplo de vivacidade e espírito missionário. Oficialmente, a presença católica no país tem apenas 31 anos. O número de católicos pode ser pequeno, mas revela um grande e bem-sucedido esforço evangelizador. Seu cardeal, Giorgio Marengo, é o mais jovem do mundo, com 48 anos de idade, um missionário italiano que, há 20 anos, foi levar a mensagem cristã para as periferias do mundo católico, numa terra sem tradições cristãs, com uma cultura muito diferente da ocidental. Além disso, antes de 1990, a Mongólia era um país comunista, no qual a prática religiosa era proibida (apenas com a Constituição de 1992, o país voltou a contar com as liberdades fundamentais, incluindo a religiosa). A viagem de Francisco não deixa de ser um reconhecimento desse florescimento, mesmo que seus números sejam pequenos em termos absolutos.

... Mais ainda um sinal de amor

Contudo, dois sentidos complementares são particularmente importantes para a comunidade católica mundial...

Cristo vai ao encontro do seu povo, esteja onde estiver, seja numeroso ou pequeno. Quando o Papa se desloca para a Mongólia, está indicando a todos nós que Deus sempre nos procurará, que a comunidade católica, qualquer que seja, tenha o tamanho que tiver, nunca será abandonada pelo Senhor. Muitas ordens, congregações e comunidades religiosas contam com a figura do “visitador”, que – como diz o nome – visita as comunidades mais distantes, para saber como estão, levar as novidades das comunidades maiores e ajudar em dificuldades. Conheci vários desses visitadores e eles se orgulhavam particularmente das visitas feitas a comunidades pequenas e distantes. Nessas viagens se percebiam seguindo a Cristo, em sua gratuidade para com o ser humano. Não viajavam por uma lógica proselitista ou segundo estratégias pastorais. Pelo contrário, muitas vezes tais viagens são excessivamente custosas e, sob a ótica humana, pouco eficientes. Mas nelas o amor de Deus pelo ser humano é mais esplendorosa.

Além disso, ao ir para a Mongólia, o Papa indica a necessidade de também nós irmos às periferias, em busca de nossos irmãos. Para quem faz uma leitura sociológica da “ida às periferias” proposta por Francisco, essa viagem evidencia que é o amor cristão que o motiva. É um gesto do qual não participamos diretamente, mas nos faz sentir o abraço do Pai e perceber a necessidade de também sermos aqueles que abraçam nossos irmãos em Seu nome.

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