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Líbano: Dois anos depois da explosão, a pobreza assola os cristãos

BEIRUT LEBANON
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Reportagem local - publicado em 07/08/22
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"A situação dá-nos vontade de chorar", diz mulher. "Não temos dinheiro para nada, mas agradecemos a Deus, apesar de tudo", acrescenta 

Georgette, de 60 anos, deveria estar ansiosa por uma aposentadora confortável. Em vez disso, tem um trabalho que não lhe permite sequer pagar a renda e vive da caridade. Dois anos após a explosão no porto de Beirute, o seu caso está longe de ser o único. Graças aos projetos da Igreja, financiados pela Fundação AIS, a situação está um pouco melhor e os Cristãos têm esperança num futuro melhor. 

Georgette vive num apartamento modesto num bairro pobre em Achrafieh, um distrito maioritariamente cristão de Beirute, no Líbano. O porto fica a cerca de 20 minutos a pé, mas isso não foi suficiente para a proteger do impacto da explosão que abalou toda a capital em 2020, matando várias centenas de pessoas. 

"Habitualmente estaria a dormir a sesta nessa altura, mas estava ao telefone quando ouvi a primeira explosão, que foi suficientemente forte para deslocar alguns objectos", diz Georgette. Depois veio a segunda, que partiu as janelas da casa e a atirou pela sala, partindo todos os dentes inferiores. "Comecei a rezar, pensei que poderia ser um terramoto, e tinha a certeza de que ia morrer", explica ao grupo de representantes da Ajuda à Igreja que Sofre que se encontravam no país para visitar projectos apoiados pela fundação pontifícia. 

Choque

Quando o choque inicial passou, começou a preocupar-se com o filho. Ele trabalhava numa loja de telemóveis muito perto do porto. Felizmente, após a primeira explosão, teve a presença de espírito para dizer à sua única cliente na altura, uma idosa, para se deitar no chão ao seu lado. A explosão destruiu o edifício, mas ambos sobreviveram. 

Mas a explosão no porto foi apenas a última de uma série de tragédias que atingiu o Líbano. Apenas alguns anos antes, uma crise financeira tinha feito cair a libra libanesa, perdendo 20 vezes o seu valor em relação ao dólar. Tudo isto foi agravado pela pandemia da Covid. 

"A situação dá-nos vontade de chorar", diz Georgette. "Não temos dinheiro para nada, mas agradecemos a Deus, apesar de tudo", acrescenta. 

A situação económica, agravada pelas restrições e confinamentos da Covid nos últimos anos, tem tido efeitos negativos nas estruturas familiares. Georgette tem 60 anos e é divorciada. Uma das suas duas filhas também se divorciou recentemente e foi viver com ela. 

Os empregos são escassos, mas Georgette encontrou recentemente trabalho a servir café num escritório. "Eles tratam-me bem, mas não me pagam nada a mais", explica. "Pago 1,5 milhões de libras (50€) para chegar ao trabalho e ganhar 2 milhões por mês [67€)". O que posso fazer?"

Pobreza

O seu salário nem sequer é suficiente para pagar a renda mensal, muito menos outros bens de primeira necessidade. No entanto, reza e diz que tudo acaba sempre por se resolver. "Às vezes o meu senhorio deixa-me pagar mais tarde, outras vezes as pessoas ajudam-me. Nem sempre sei de onde vem a ajuda, mas há sempre alguém que ajuda", diz, benzendo-se e esforçando-se por conter as lágrimas. 

Após a explosão no porto, os voluntários da Pastoral Universitária, que é apoiada pela Fundação AIS, foram de porta em porta para descobrir aquilo de que as pessoas precisavam. Uma das assistentes espirituais da capelania, a Ir. Raymunda, ajudou Georgette a encontrar um dentista que lhe arranjou os dentes gratuitamente e entrega-lhe um cabaz de alimentos de dois em dois meses. É uma grande ajuda, diz ela, mas mesmo assim, quando a comida acaba, muitas vezes resta-lhe comer pão com um pouco de azeite. Longe vai o tempo em que a carne e as aves faziam parte da sua alimentação. 

Ainda assim, ela tem esperança. "Eu sou forte. Mesmo quando fico doente, não paro para descansar, fico de pé. Não quero mostrar fraqueza e continuo sempre positiva", afirma. "Sem esperança não há vida. A situação vai acabar por melhorar", acredita. 

Georgette é apenas uma das muitas cristãs empobrecidas no Líbano. Através dos projectos financiados pela Ajuda à Igreja que Sofre, muitas pessoas estão actualmente a receber apoio regular. A fundação pontifícia tem apoiado a Igreja no Líbano há décadas, mas aumentou significativamente o seu financiamento desde a crise. 

(Com AIS)

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